AIRAS NUNES
( Portugal )
Airas Nunes (c. 1230 - 1293) foi um clérigo e trovador do século XIII, provavelmente nascido na Galiza.
Sabe-se que entre 1284 e 1289, foi poeta na corte de Sancho IV de Castela.
Os seus poemas foram escritos em galaico-português. Às vezes citações de outros autores, como Dinis de Portugal, o rei Afonso X de Castela, João Zorro e Nuno Fernandes Torneol, são encontradas no seu trabalho.
VIEIRA, Yara Frateschi. POESIA MEDIEVAL. LITERATURA PORTUGUESA. São Paulo: Global, 1987. 208 p. (Coleção literatura em perspectiva. Série Portuguesa) Ex. bibl. Antonio Miranda
[33] Bailemos nós já todas três, ai amigas,
só aquestas avalaneiras frolidas,
e quem for velida, como nós, velidas
se amigo, amar,
só aquesta avelaneira frolidas
verrá bailar.
Bailemos nós já, todas três, ai irmanas,
só aquele ramo destas avelanas,
a quem for louçana, como nós, louçanas,
se amigo amar,
só aqueste ramos destas avelanas
verrá bailar.
GT 7 (CBN 879)
***
[34] Oi hoj´ eu hua pastor cantar
du cavalgava per hua ribeira,
e a pastos estava senheira;
a ascondi-me pola escultar,
de dizia mui bem este cantar:
“Solo ramo ver´ e frolido
vodas fazem a meu amigo;
choram olhos d´amor.
E a pastor parecia mui bem,
e chorava e estava cantando;
e eu mui passo fui mi achegando
pola oir, e sol non falei rem;
e dizia este cantar mui bem:
“Ai estorninho do avelanedo,
cantades vós, e moir´ eu e pen´
e d´amores hei mal!”
E eu oí-a sospirar entom
se queixava-se estando com amores
e fazia guirlanda de flores;
des i chorava mui de coraço,
e dia este cantar entom:
“Que coita hei tam grande de sofrer,
amar amigu´e cnon ousar veer!
E pousarei solo avelanal!”
Pois que a guirlanda fez a pastor
foi-se cantando, indo-s´en manselinho;
se tornei-m´eu logo a meu cam~io,
ca de a nojar non houve sabor;
e dizia este cantar bem a pastor;
“Pela ribeira do rio
cantando ia la virgo
d´amor;
quem amores há
como dormirá,
ai, bela frol?”
GT 1 (CBN 868, 69, 70)
***
DOM DINIS
[35] Ai flores, ai flores de verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes nova do meu amado!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado?
Ai Deus, e u é?
Vós me perguntades polo võss´ amigo
e eu bem vos digo qu eé san´ e vivo.
Ai Deus, e u é?
Vós me perguntade polo voss´ amado,
e eu nem vos digo que é viv´ e sano.
Ai Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é san´e vivo,
e seerá vosc´ anat´ o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é viv´ e sano,
e seerá vosc´ ant´ o prazo passado.
Ai Deus, e u é?
HL 92 (CBN 568)
***
[36] Levantou-s´ a velida,
levantou-s´ alva,
e vai lavar camisas
eno alto.
Vai-las lavar alva.
Levantou-s´ a louçãs,
levantosu-s´ alva,
e vai lavar delgadas
eno alto.
Vai-las lavar alva.
[E] e vai lavar delgadas,
levantou-s´alva:
o vento lh- as levava
em alto.
Vai-las lavar alva.
O vento lh´as desvia,
levantou-s´ alva;
meteu-se alva em ira
eno alto.
Vai-las lavar alva.
O vento lh´as desvia,
levantou-s´alva;
meteu-s´alva em ira
eno alto.
Vai-las lavar alva.
O vento lh´as levava,
levantou-s´ alva;
meteu-s´ alva em sanha
eno alto.
Vai-las lavar alva.
HL S93 [CBN 569)
***
[37] Hunha pastor bem talhada
cuidava em seu amigo
e estava, bem vos digo,
per quant´ eu vi, mui coitada,
se diss´: “oimais non é nada
de fiar per namorada,
pos que mim eo meu há errado.”
Ela tragia na mão
h~u papagaii mui fremoso
cantando mui saboroso,
ca entrava o verão;
e diss´: “amigo loução,
que faria per amores
pois m´errastes tam em vão?”
e caeu antr´ unhas flores.
H~ua gran peça do dia
jouv´ali que non falava
e a vezes acordava
e as vezes esmorecia:
e diss´: ai Santa Maria,
que será de mim agora?
e o papagai dizia:
“bem, per quant´eu sei, senhora.”
Se me queres dar guarida,
diss´a pastor, di verdade,
papagai, per caridade,
camorte m´é esta vida”;
diss´el: “senhor comprida
de bem, e non vos queixedes,
ca o que vos há servida,
ergued´olho e vee-lo-edes”.
LSP, p. 63 (CBN 534)
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Página publicada em abril de 2023
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